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Aluno Seigan Dojo Sandro Dutra

Dojo e Igreja, dois lugares distintos, mas com o mesmo objetivo: a busca pela harmonia espiritual

Introdução

Sandro Dutra da Luz
Niterói, RJ, 2017

No início de 2010, após uma consulta médica, fui recomendado a procurar alguma atividade física, pois estava levando uma vida sedentária e com sobrepeso, que aliás, ainda estou um pouco acima do peso até hoje.

 

Em princípio busquei a caminhada diária como fuga do sedentarismo, após uns três meses caminhando passei para uma leve corrida que já estava me rendendo uns 5 a 6 quilômetros diários, aquilo já estava me deixando orgulhoso. Mas ainda não era o que eu exatamente buscava.

 

Conversando com um colega de trabalho, este, professor de Karate, ouvi falar pela primeira vez do Aikido, perguntei do que se tratava e ele tentou, sem muito conhecimento, falar um pouco sobre a Arte. Imediatamente me interessei pelo assunto e comecei uma pesquisa na internet buscando  encontrar um local para treinar. Tive a sorte de achar o SEIGAN DOJO, no qual tenho o imenso orgulho de fazer parte desta família até hoje.

Capítulo I – O início

Minha primeira visita ao SEIGAN DOJO foi em outubro do mesmo ano. Quem ministrava aula no dia era o Sensei Paulo, pessoa que logo de cara me causou simpatia; me recebeu na porta, se apresentou, fez algumas perguntas como: idade, se eu já havia praticado alguma arte marcial, o que me levou a buscar o Seigan Dojo e falou um pouco sobre o Aikido. Vale ressaltar que tanto o Sensei Paulo quanto o Sensei Carlos têm o mesmo comportamento com todos os visitantes que chegam ao Seigan Dojo até hoje. Isso é muito legal!

 

Após uma breve conversa e quase duas horas assistindo a aula, senti uma energia tão boa no ambiente que pensei comigo, “é isso mesmo que eu quero para minha vida!”.

 

Iniciei meu treinamento naquela mesma semana, aula também do Sensei Paulo, lembro como se fosse hoje, treinei com Vinicius e com a Jessica, alunos antigos do Seigan e, na época, ambos faixas verdes. O que logo percebi de cara foi a paciência e preocupação que os alunos mais antigos tinham com os novos alunos. Aquilo me conquistou ainda mais.

 

Não posso deixar de descrever como sai desta primeira aula. Achei que fosse morrer, meu coração parecia que ia sair pela boca, pernas e mãos trêmulas, quando entrei em meu carro fiquei por uns 15 minutos, ali, parado, respirando, e aos poucos os sentidos foram se reajustando para só assim eu ligar o carro e ir pra casa. Pensei que com os meus 5 a 6 km de corrida diária estivesse preparado, que nada! Pensei comigo, Deus me livre, to fora!

 

Fora nada! Lá Estava eu na outra semana, agora, na aula do Sensei Carlos e pude finalmente conhecê-lo, que figura! Sem palavras pra descrever a simpatia deste homem, que me recebeu de braços abertos e para minha surpresa, ao me apresentar, ouvi dele, “Sim meu irmão falou de você comigo”, fiquei feliz por ter ficado na lembrança do Sensei Paulo e naquele momento tive a certeza que faria parte deste grupo que chamamos de família.

Capítulo II – O Treinamento

Mas como nada na vida é de graça, posso afirmar com toda certeza que não foi e não está sendo nada fácil. Primeiro vieram todas aquelas dores e lesões, que aliás sinto e tenho até hoje, em seguida vieram as dúvidas, que logo percebi que seriam respondidas com o tempo.

 

Durante os primeiros três anos de treino, já me preparando para o exame de faixa roxa, ainda não tinha muito bem entendido o espirito da coisa. Treinava para ser um praticante de artes marciais, para melhorar meu condicionamento físico, para perder peso e ponto final.

 

Com o passar dos anos, com as participações nos seminários e lendo alguns livros sobre a Arte, fui percebendo que o Aikido vai muito além do que apenas uma arte marcial, ele é uma maneira mais humana de se viver, quem realmente descobrir o verdadeiro espírito do Aikido, viverá uma vida de paz e harmonia que muitos buscam em suas religiões.

 

“Este é o significado do Aikido, um caminho para “juntar energia” tornando o conflito em algo

construtivo para os participantes e consequentemente para humanidade."

(Sensei Wagner Bull, Livro Aikido Takemussu Aiki)

Se pararmos para pensar, percebemos que desde o primeiro dia de treino somos o tempo todo cobrados para que nos tornemos pessoas com postura que vá além do Dojo (Local do Caminho). Passamos a ter mais cuidado com as coisas que nos cercam no mundo lá fora.

 

Eu como homem temente a Deus, sempre aprendi que temos que respeita-lo acima de tudo e nunca, nunca Julgar o próximo. Assim também procuro levar esse ensinamento para minha Arte. Concilio uma coisa a outra.

 

“Se um homem não demostrar seu valor no tatame, ninguém é capaz de percebê-lo no campo de batalha.”

(Yamamoto Tsunetomo)

E é com esse pensamento que hoje entendo que o Aikido, apesar de não ser uma religião, nos obriga a buscar um sentimento de paz nas técnicas. Quantas vezes ouvimos o Sensei falar: relaxa os ombros, não faça força, conduza a energia aplicado-a a seu favor, torne-se um só - sentimento este que tenho certeza de que quando O Sensei Morihei Ueshiba começou seu aperfeiçoamento do Aikido, queria buscar. E que muitos religiosos buscam até hoje, a harmonia espiritual.

Capítulo III – O Caminho

Nos primeiros meses como alunos de Aikido, somos conduzidos aos treinos com técnicas básicas que são executadas a partir de uma posição fixa. Você aguarda o seu colega de treino (uke) fixar um ataque firme e em seguida nos movimentamos, para só assim tentarmos executar uma técnica com movimentos padrões buscando o desequilíbrio do uke (quem ataca). Este treinamento é adotado para que o iniciante grave bem a técnica, identifique o seu centro e os movimentos e assim por diante...

 

Muitos de nós nos encontramos, na nossa vida fora do Dojo, como se estivéssemos treinando para nosso primeiro exame de kyu, esperamos as coisas acontecerem para depois tomarmos alguma atitude, não damos conta de que sem uma base sólida na vida só iremos piorar a situação. Agimos com atraso. Não temos percepção das coisas.

 

Eu comparo o aluno novo no Dojo a uma pessoa descrente que está indo pela primeira vez à uma Igreja (Grupo de pessoas unidas pela mesma fé). Dificilmente são tocadas em seus primeiros encontros, possuem um comportamento de insegurança e desconfiança, normalmente são as mais difíceis de se convencerem. Chegam com muitas perguntas e ansiosos na procura de que seus problemas sejam resolvidos do dia para noite.

 

Após alguns meses de prática, no tempo de cada um, começamos a ter uma certa noção das técnicas mais fluidas, antes mesmo que o uke possa desferir um ataque, iniciamos a busca por um movimento pensando na antecipação da defesa. Muitas das vezes, com a ansiedade ainda fazendo parte da nossa vida, acabamos perdendo o controle da situação.

 

Existem momentos em nossa vida que antecipamos comportamentos, palavras, decisões que não são correspondidos da maneira que gostaríamos.

Temos que parar e perceber o que o outro quer e avaliarmos as conseqüências, assim tudo se torna mais harmonioso. Zanshin (atenção constante).

 

Deparei com situações em minha vida que se não fosse o Aikido e minha religião, que sempre me ajudou a andar no caminho da sabedoria, eu teria enlouquecido. Aprendi que o verdadeiro aikidoista não é uma pessoa apenas preparada para situações de risco corporal. Somos o tempo todo preparados para lidar com processos de danos emocionais e espirituais. É difícil entender isso dentro da religião. Quanto mais num Dojo!

 

Após alguns anos de pratica, aprendemos que neste momento do treino buscamos a paciência, a harmonia e a elegância das técnicas.

 

Harmonia, paciência e elegância que também levamos para nossa vida pessoal, nossa família, amigos, trabalhos e tudo aquilo que nos cerca.

 

Quando escolhemos seguir uma religião é exatamente isso que buscamos!

 

“Quando você realmente descobre o sentido de estar dentro de uma religião e

pratica algo que o completa, sua vida muda!” (Pe. Marcelo Rossi)

Conclusão

Hoje comparo a pratica do Aikido a fé. Sabemos que existe, mas se não buscarmos, se não acreditarmos, se não tiver dedicação e respeito nada terá sentido, sua busca se tornará uma frustração e você se tornará uma pessoa infeliz.

 

Humildade, sinceridade, perseverança e superação são elementos fundamentais para o desenvolvimento pessoal e crescimento espiritual.

 

Por isso eu sempre digo “Dojo e Igreja, dois lugares tão distintos mas com um mesmo objetivo, a busca pela harmonia espiritual”.

 

KANNAGARA TAMASHII HAEMASSE.

“Não há nada superior à verdade, seguindo as Leis do Universo a cada dia seremos mais e mais felizes.” ... (O Sensei)

Agradecimentos

Em primeiro lugar agradeço a Deus, pois sem ele nada tem sentido em nossas vidas. Tenho certeza que quando O Sensei Morihei Ueshiba, criou o Aikido ele queria passar para seus alunos o que muitos chefes de religiões tentam passar até hoje, a busca pela harmonia espiritual.

 

Agradeço também minha esposa que soube entender minhas ausências nos fins de semanas com os seminários e nas noites que cheguei mais tarde após os treinos, tenho certeza que o apoio da família é muito importante para o nosso desenvolvimento na arte e na vida.

 

O meu muito obrigado aos meus Senseis Paulo Cirto e Sensei Carlos Cirto que com muito amor, paciência e humildade se prontificam a ajudar e ensinar esta Arte por todos esses anos. Nunca pensei em minha vida que poderia conhecer duas pessoas tão maravilhosas e que hoje, com toda certeza, posso chamá-los de irmãos. Obrigado por tudo!!!!

 

Agradeço também ao Sensei Wagner Bull e seus filhos Alexandre e Edgar Bull, que por anos vem com humildade e respeito, difundir essa maravilhosa arte que é o Aikido.

 

Agradeço a todos os colegas de treino do Seigan Dojo que também sempre estiveram prontos para ajudar uns aos outros nos tornando cada vez mais unidos.

 

Por fim, agradeço a todos aqueles que dedicam suas vidas pela arte do Aikido. Sem dúvidas é nossa responsabilidade continuar esse caminho!

 

O meu muito obrigado.

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