Seika-no-itten:
Já se passaram quase dez anos. Era um Gashuku de Instrutores, que se realizava anualmente no Dojo Central, em São Paulo. Nesse encontro em particular, ocorreu um fato que me marcou profundamente. Ao iniciar o treino, antes mesmo de executarmos a primeira técnica, o Sensei Wagner jogou a seguinte pergunta no ar:
“Qual a primeira coisa que vocês devem ensinar em seus Dojos, aos alunos?”
Depois de alguns instantes, vencida a timidez inicial, começaram as especulações:
_ Rolamento.
_ Não, respondeu o Sensei.
_ Kamae.
_ Não.
_ Ikkio.
Novamente a negativa do Sensei.
Foram muitas as respostas e todas elas seguidas de um não. Quando esgotaram-se as sugestões dos Instrutores presentes, o Sensei falou: “Quando uma pessoa inicia a prática do Aikido, o mais importante é identificar o Seika-no-itten - o ponto um, ou o hara, como é também conhecido esse ponto. Uma vez identificado, é necessário praticar constantemente o seika-no-itten”.
Presente na cultura Oriental, seja no Budismo, seja na Yoga ou mesmo nas artes marciais, o ponto um é a base da coordenação física e mental, que leva à harmonia com os princípios da natureza. Sua perfeita compreensão é fundamental na prática das artes marciais tradicionais e está intimamente ligada à concentração. Pode-se até dizer que o seika-no-itten é o ponto de ligação entre mente e corpo. Porém, somente um corpo relaxado pode apontar o local onde se situa o hara; que fica logo abaixo do umbigo. Se mantivermos nosso corpo relaxado, nosso centro de gravidade (e conseqüentemente nossa força) se concentrará sempre mais abaixo. Dessa forma, passar a treinar e se locomover com a idéia do hara baixo pode trazer ganhos inimagináveis ao indivíduo e, especificamente, ao praticante de Aikido. Ao nos concentrarmos na parte inferior do nosso corpo, o ponto um ficará a cada dia mais latente. Com o treinamento diário, o indivíduo passa inconscientemente a relaxar e manter um estado de coordenação em todas as suas atividades.
Na prática do Aikido, com o agravante das inúmeras variações de técnicas, torna-se imprescindível manter elevado o nível de concentração. Em um Jyu Waza, por exemplo, onde se é atacado por várias pessoas simultaneamente, em diversas direções, não podemos focar nosso potencial defensivo somente no oponente que está à nossa frente. Por outro lado, se pretendermos nos atentar a todos que nos atacam, dificilmente sairemos ilesos. Manter a consciência fixa no seika-no-itten é a única maneira de perceber todos que se movimentam à nossa volta e “sentir” o fluxo do ataque, harmonizando-se com ele.
O que aparentemente pode parecer simples é considerado um dos maiores desafios do praticante de Aikido e podemos dizer, com certeza, que irá lhe acompanhar por todo o caminho do treinamento. Ombros relaxados, coluna ereta, centro baixo, são os principais pré-requisitos para atingir uma postura forte e ao mesmo tempo relaxada. Com o passar do tempo, ao avançarmos na prática do Aikido, podemos arremessar e ser arremessados durante os treinos com aquele sentimento agradável de integração e harmonia - objetivo maior do Fundador do Aikido, Mestre Morihei Ueshiba.
Paulo Augusto Cirto Martins - 4º Dan do Aikikai
Instituto Takemussu - Brazil Aikikai
Seigan Dojo/ Niterói