Aikido: um caminho de superações
Washington Luiz Peixoto
8 de agosto de 2008, Niterói, RJ
No ano 2001 comecei a perceber que precisava de algo que fortalecesse o meu corpo e que ao mesmo tempo me ajudasse no lado espiritual. Sentia que estava perdendo a concentração e a criatividade no trabalho, a paciência e a alegria na vida pessoal.
Sempre gostei de atividades físicas, apesar de nunca ter sido um atleta. Porém somente a execução de exercícios para a cultura de um corpo melhor não me prendia por muito tempo.
Durante uma conversa com um colega de trabalho ele mencionou que tinha feito umas aulas de Tai-Chi e me indicou uma academia. Porém ao chegar lá descobri que as aulas haviam sido canceladas e pela primeira vez fiquei sabendo sobre o AIKIDO.
Ao reencontrar o colega e conversar sobre o ocorrido escutei as seguintes frases. “Aikido. Eu assisti um treino. Acho que você vai gostar. Tem o seu jeito”. E então em novembro de 2001 comecei o meu treinamento.
Nestes quase sete anos, vi que o Aikido era o que eu buscava e que para aprendê-lo teria de superar algumas barreiras.
A primeira barreira que enfrentei foi a parte física, pois já fazia pelo menos uns dez anos que não praticava nenhuma atividade. A segunda foi conseguir efetuar as técnicas com leveza e sem usar a força física. Esta eu luto até hoje para superar!
Cada praticante tem as suas barreiras a superar, porém muitos são vencidos por elas. Dentre as que eu vi subjugar alguns que pelo Dojo passaram, posso citar:
O QUESTIONAMENTO: durante o processo de aprendizado nos questionamos se durante um combate conseguiremos nos defender usando as técnicas praticadas. Será que conseguirei aplicar um SANKYIO? Se alguém me atacar com uma arma de fogo, conseguirei retirá-la do meu oponente e ainda prendê-lo? São tantas perguntas, mas a cada dia tenho percebido que somente uma resposta é dada através das atitudes dos praticantes mais evoluídos. “COM A PRÁTICA DO AIKIDO ESTAREI NÃO SÓ PREPARADO FISICA E EMOCIONALMENTE PARA ENFRENTAR QUALQUER SITUAÇÃO, MAS COMO TAMBÉM A EVITÁ-LAS”.
A VAIDADE: alguns praticantes devido a uma genética favorável acabam tendo uma facilidade maior no aprendizado do AIKIDO. Com pouco tempo de treino já estão rolando e efetuando técnicas com certa facilidade, alguns até com certa eficiência. Porém devido a esta facilidade de aprendizado acabam perdendo o comprometimento com o Dojo e vão aos poucos deixando que o estudo da arte seja subjugado pelas necessidades do dia a dia.
COMPREENSÃO DO BUDO: alguns praticantes confundem um treino firme e com energia num treino agressivo e violento. O praticante de AIKIDO deve ter no seu interior que no começo serão levados em consideração, o fato da sua inexperiência em acompanhar a técnica. Porém no decorrer dos treinos essa responsabilidade terá de ser dividida entre o NAGE (aquele que aplica a técnica) e o UKE (aquele que sofre a técnica). O NAGE terá de adaptar a sua técnica ao praticar com pessoas de diversas idades e vigor físico sem perder a marcialidade. O UKE deverá saber se proteger e acompanhar a técnica sem atrapalhar ou ajudar o NAGE, favorecendo assim o melhor desenvolvimento da técnica de ambos. Quando não é alcançado este ponto de evolução no praticante o AIKIDO começa a perder um dos seus focos, a defesa pessoal eficiente e harmônica.
Quando o praticante percebe quais são as barreiras a serem superadas é que ele começa a praticar o bom AIKIDO. Esta compreensão é o primeiro ensinamento que podemos transportar da prática do AIKIDO para a vida. É através dela que aprendemos a vencer os nossos maiores oponentes.
Há algum tempo atrás me foi repassado um e-mail endereçado ao Sensei Wagner Bull, se não me engano, onde uma pessoa dizia que queria praticar AIKIDO, porém possuía uma hérnia de disco e tinha dúvidas de como superaria este problema já que o praticante sofre várias técnicas de arremesso. Nesta época, eu passava pela mesma duvida, já que estava vivendo o mesmo problema. Eu havia sofrido uma crise que me afastou por quase seis meses dos treinos e me fez pensar em desistir de chegar onde me encontro neste momento. Um exame de faixa preta de AIKIDO do INSTITUTO TAKEMUSSU.
Primeiro tive de superar a incerteza, se ao voltar conseguiria treinar com o mesmo vigor de antes. Conseguir-se-ia ser um bom UKE. Afinal num treino de AIKIDO é a habilidade do UKE que ajuda o NAGE a evoluir.
Superar esta barreira não tem sido fácil. Convivo com a dor e o medo em cada treino. Mas percebi que este sentimento me acompanha em tudo o que eu faço, portanto não poderia deixá-lo me atrapalhar nos treinos.
Com a ajuda dos companheiros de treino que compreenderam o meu problema e passaram a me mostrar que através do BUDO que praticamos em nosso Dojo isto não seria um problema, comecei a fazer da minha maior barreira o meu melhor professor. Antes dele se manifestar com tanta intensidade eu cometia, como todo praticante, vários erros de postura e usava muito mais a força física do que o hara. Hoje quando cometo esses erros sou imediatamente alertado pela minha coluna e procuro me corrigir.
Quanto aos rolamentos comecei a procurar outras formas mais suaves de executá-los, sem deixar que isto me impeça de ser um UKE. Ao adaptar o meu corpo à minha nova condição comecei a entender melhor certos fundamentos: Base baixa e firme, coluna reta, desequilíbrio, harmonia com o meu oponente.
"Massakatsu Agatsu Katsuhaiabi" significa que a verdadeira vitória é aquela sobre nós mesmos. Esta é a frase que ecoa na minha mente.
Agradecimentos
Enumerar os agradecimentos aos meus companheiros de treino e aos Senseis que se prontificam a nos ensinar é uma tarefa difícil, pois devo a eles o fato de estar superando estas barreiras como certa facilidade. Porém com a compreensão de todos, me vejo na obrigação de citar alguns.
Aos senseis CARLOS e PAULO CIRTO que desde o começo procuraram formar um grupo coeso onde o BUDO é uma palavra de ordem. O fato de termos dois senseis com estilos diferentes tem proporcionado a nós praticantes do Seigan uma visão mais coerente do que é a filosofia do INSTITUTO TAKEMUSSU. A determinação por eles empregada tem tornado o AIKIDO em Niterói um exemplo de organização. OBRIGADO!
JULIANO, nosso primeiro e merecido faixa preta. O qual desde o inicio compartilho o desejo de alcançar o verdadeiro BUDO. É gratificante quando encontramos uma pessoa que compartilhe as mesmas metas que almejamos em uma atividade (NAGE e UKE).
Sensei Geraldo. É um prazer ter praticado com “uma lenda”. Até hoje escuto a sua voz de incentivo durante a preparação do meu primeiro exame de faixa. Esta dedicação que se refletia, em cada praticante, é uma das bases que me trazem a este exame.
Aos Dojos que formam o TAKEMUSSU - RIO DE JANEIRO que sempre nos receberam tão bem.
Ao Sensei Wagner Bull, que criou este Instituto reconhecido pelas pessoas que o formam, como um dos melhores caminhos para se alcançar o verdadeiro Budo. Não é fácil construir e manter um grupo como este.
Deixei por último a minha família, pois foi através do incentivo que me proporcionaram que cheguei até aqui. Confirmando a minha certeza que o AIKIDO deixava-me mais próximo a elas. Desde o começo me apoiavam e me cobravam o fato de não ir treinar durante algumas dificuldades do dia a dia. Durante as minhas crises me incentivavam a voltar a praticar e a procurar uma nova forma de fazer o que antes eu fazia.
A todos vocês, OBRIGADO!